Há algum tempo tivemos a ideia de começar uma série de entrevistas com nossos guias e parceiros locais nos destinos que oferecemos aqui na Viare. Afinal, por mais que já tenhamos visitado a maioria desses lugares, nada se compara ao conhecimento e experiência destas pessoas que vivem e trabalham com o turismo ali.
Na minha primeira viagem a Ubatuba resolvi tirar essa ideia do papel, e marquei um lanche com nosso parceiro local, Potiguara do Lago. Poti, como é conhecido, nasceu em Ubatuba há 36 anos e está envolvido com o turismo “desde sempre”, como ele mesmo disse. Seus pais têm um quiosque na Praia Grande há 40 anos, e desde cedo, Poti já está acostumado a trabalhar com os turistas. Ao longo dos anos, ele também trabalhou no restaurante da família, se formou em Administração com Habilitação em Hotelaria e Turismo, trabalhou em agências e hotéis, fez curso de guia e morou na Austrália (onde também trabalhou na área e aprendeu inglês). Quando voltou para Ubatuba, começou a trabalhar na secretaria de turismo (e foi secretário de turismo da cidade!) e há 2 anos abriu sua própria agência, a Ubatuba Turismo.
Trabalhamos com o Poti há cerca de um ano e meio e já sabemos da qualidade do serviço prestado por ele. Além de todo seu conhecimento, a atenção que ele dá a cada pedido de viagem (por mais esdrúxulo que seja!) com certeza é o seu diferencial, e é o que o destaca das várias outras agências locais. Ele sempre faz questão de entender os desejos e necessidades do cliente antes de enviar um orçamento e sugerir os passeios e acomodações.
O município de Ubatuba conta com mais de 100 praias e, segundo ele, é o 2o município em São Paulo com maior número de leitos (18 mil aproximadamente). Com praias e acomodações para todos os gostos, realmente é preciso entender o perfil do cliente para tentar ao máximo atender suas expectativas. E esse foi justamente uma dos primeiros assuntos abordados na nossa conversa, no qual também falamos sobre a história e cultura da cidade, tartarugas marinhas e muito mais. Confira abaixo!
Qual a melhor praia de Ubatuba na sua opinião?
A minha praia preferida aqui é a do Puruba. É um lugar maravilhoso onde acontece o encontro do rio com o mar! Mas é muito difícil indicar a melhor praia porque o que é melhor pra mim, muitas vezes não agrada a outras pessoas. A Praia do Puruba, por exemplo, apesar de ser maravilhosa, não tem nenhuma estrutura e o acesso não é fácil como o de outras praias do litoral norte, e isso a torna mais quieta e tranquila. Eu acho isso ótimo, mas muita gente não gosta, e prefere praias com barracas e estrutura ou praias mais badaladas, como a Praia Grande, a Praia do Lázaro ou a Praia da Almada, por exemplo. Então, antes de indicar uma praia eu sempre tenho que ver qual a expectativa da pessoa.
E onde você recomenda se hospedar aqui?
Geralmente eu indico o Itaguá (o centro turístico da cidade), que é onde você encontra a maioria de opções de restaurantes, lojas, etc. Apesar das melhores praias da cidade ficarem um pouco afastadas do centro, é muito mais fácil se deslocar de dia até elas, do que se hospedar perto da praia e ter que deslocar a noite para ir aos restaurantes/bares. Mas claro, de novo, é tudo uma questão de preferência de cada turista.
Ubatuba é conhecida principalmente por suas praias e pelo ecoturismo e poucas pessoas vem pra cá com o intuito de conhecer mais sobre a história e cultura local. Para esse tipo de turismo, elas sempre procuram a vizinha Paraty, certo?
Ubatuba é uma cidade com 381 anos e também foi parte importante da história do Brasil. Se você for ler um pouco mais sobre a cidade, vai ver que assim como Paraty, sua história também está diretamente ligada aos 3 grandes ciclos econômicos: ouro, café e cana de açucar. Eu adoro contar sobre a história da cidade aos turistas e também gosto de levá-los às comunidades quilombolas e dos caiçaras, quando eles pedem passeios focado em cultura e história local. Inclusive, a primeira cliente que a Viare fechou comigo, na volta de um dos passeios, por coincidência estava rolando o fandango caiçara (uma dança típica da comunidade) e nós paramos pra ela conhecer e ela adorou! Ela também teve a chance de experimentar o Azul Marinho, um prato típico Caiçara.
Que legal, nunca ouvi falar desse prato! Como é?
O prato é basicamente um peixe cozido com banana verde. Quando cozida, a banana verde fica bem molinha e fica parecido com uma batatinha. E ela é cozida em panela de ferro, e o caldo acaba ficando meio escuro, e daí surgiu o nome Azul Marinho. É uma delícia! O prato acabou ficando gourmetizado (nos restaurantes da cidade ele é bem caro), mas nas comunidades caiçaras você consegue comer um prato bem farto por um valor bem mais em conta. Vale muito a pena!
Não é por acaso que a cidade tem o apelido de Ubachuva (pegamos 3 dias de chuvas intensas durante os 5 dias que passamos lá). O que você recomenda pra um dia chuvoso em Ubatuba?
Sim, essa e uma região que chove bastante e a chuva é de extrema importância para manter toda a mata atlântica por aqui. Não é a tôa que em inglês a floresta que cerca a cidade é chamada de rainforest (rain significa chuva em português). Mas para dias chuvosos, sempre recomendo o aquário e o Projeto Tamar! E também conhecer algumas das centenas de opções de restaurantes/bares/lanchonetes da cidade.
Falando sobre o Projeto Tamar, eu estive no centro de visitantes do projeto na Praia do Forte ano passado durante a temporada reprodutiva das tartarugas marinhas e tive a oportunidade de ver a soltura delas ao mar, que é um momento muito bonito. Aqui em Ubatuba também acontece isso?
Não, porque aqui não tem ponto de desova. O que acontece é que as tartarugas que nascem no Espirito Santo e no Nordeste e outras regiões do oceano Atlântico vem pra área de Ubatuba para se alimentarem e depois “seguirem viagem”. Então, o Projeto Tamar aqui tem mais o objetivo de conservação e resgate dessas tartarugas. Inclusive, outro dia durante um passeio com um grupo próximo ao farol (Farol do Cruzeiro), um homem pescou acidentalmente uma tartaruga. Na mesma hora eu e um outro guia fomos ajudar a tirá-la da água e logo ligamos para o pessoal do Tamar – aqui todos os guias já tem o contato deles – que em pouco tempo chegou para fazer o resgate e levá-la ao centro de reabilitação. É um trabalho muito importante que eles fazem aqui!
E quais são os melhores pontos pra ver as tartarugas aqui em Ubatuba?
É muito fácil ver elas no habitat natural aqui. Se você caminhar no fim da tarde pela praia de Itaguá mesmo, consegue avistar algumas na água. Mas para quem quer vê-las de pertinho, há vários pontos para snorkel aqui na região, como na Ilha das Couves.
A Ilha das Couves parece ser maravilhosa! Mas vi uma notícia outro dia falando sobre a superlotação da Ilha e a desorganização do turismo lá. O que você sabe sobre isso e quais são os maiores desafios com relação a exploração turística da Ilha?
Sim, é verdade. A Ilha das Couves tem recebido muito mais turistas do que poderia. Eu nem faço mais passeio pra lá na alta temporada, porque a lotação chega a ficar insuportável. O turista vê a foto da Ilha paradisíaca na internet e se depara com outra realidade ao chegar lá. A Ilha das Couves é um lugar maravilhoso e que merece mais atenção quanto a sua exploração como um destino turístico e o impacto ambiental disso. Acho que uma forma de controlar a quantidade de pessoas na ilha, é através do aumento de preços da travessia, que hoje em dia é bem barata, ou estipulando um número máximo de pessoas por dia. Esse é um trabalho delicado que a secretaria de turismo tem que fazer juntamente à comunidade de Picinguaba, que é a responsável pela ilha.
A Viare agradece demais ao Poti pela parceria e disponibilidade! E fica aqui a dica de conhecer esse destino incrível que é Ubatuba.
E já sabem: precisando de ajuda para organizar sua viagem, estamos aqui 🙂